O trabalho que Palmas merece

sábado, 20 de dezembro de 2025

Pesquisa revela que Rio de Janeiro é a capital brasileira com maior acesso da população a teatro; Teresina lidera em circo e Manaus em espetáculos de dança

Nas 27 capitais, a média de acesso dos moradores às artes cênicas é de 25% - espetáculos de dança atraem 24% e apresentações circenses, 14%. Estudo contou com 19.500 entrevistas presenciais em todas as 26 capitais e no Distrito Federal.

Público acompanha a apresentação dos dados da pesquisa Cultura nas Capitais, em São Paulo. Crédito: Luis Benedito / Fundação Itaú

Dados da pesquisa Cultura nas Capitais mostram que o Rio de Janeiro é a capital brasileira com maior acesso de sua população a apresentações teatrais, enquanto Manaus ocupa a primeira posição em espetáculos de dança e Teresina lidera no circo. O estudo considera acesso o percentual de pessoas com 16 anos ou mais que foram às atividades nos 12 meses anteriores à entrevista, metodologia que permite comparações e reduz efeitos sazonais.

Esses são alguns dos dados revelados nesta sexta-feira (19/12), em evento no Instituto Brasileiro de Teatro, pela pesquisa Cultura nas Capitais, maior levantamento sobre o tema já produzido no Brasil, que analisou o comportamento dos moradores das 26 capitais e do Distrito Federal.

A pesquisa da JLeiva Cultura & Esporte ouviu 19,5 mil pessoas em todas as capitais brasileiras e conta com patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Rouanet, Lei Federal de incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. O projeto também tem a parceria da Fundação Itaú. A pesquisa de campo foi feita pelo Datafolha.

“O teatro tem grande potencial de crescimento. Para que esse potencial se transforme em crescimento efetivo, é fundamental conhecer o perfil do público e buscar formas de enfrentar as barreiras que ainda afastam algumas pessoas de nossos palcos”, comenta João Leiva, coordenador da pesquisa Cultura nas Capitais.

Teatro, dança e circo

Enquanto a média de acesso da população ao teatro nas 27 capitais ficou em 25%, na capital fluminense o índice é de 32%. Na sequência, Florianópolis (31%), Porto Alegre (30%), Curitiba (29%), São Paulo (28%) Belo Horizonte (28%) e Vitória (26%) são as capitais com resultados acima da média.

Os dados sobre acesso a teatro revelam um cenário marcado por fortes desigualdades territoriais. A maioria das cidades apresenta índices abaixo da média das capitais. Os melhores resultados estão no Sul e no Sudeste, enquanto capitais do Norte e do Nordeste figuram majoritariamente entre as que registram menor acesso.

Além do público efetivo, a pesquisa revela a existência de um amplo público potencial para o teatro nas capitais brasileiras. Entre os entrevistados que não foram ao teatro nos 12 meses anteriores à entrevista, 31% declararam alto interesse em ir (notas 8, 9 ou 10 em uma escala de 0 a 10). Esse contingente é formado majoritariamente por mulheres, que representam 61% do público potencial, além de pessoas com ensino médio (43%) e pardos (45%). Caso esse interesse se convertesse em presença efetiva, o percentual de acesso ao teatro poderia alcançar 56% da população das capitais, indicando a importância das políticas de formação de público.

No caso da dança, a média de acesso nas capitais é de 24% e a pesquisa indica um destaque positivo das capitais do Norte, que concentram três das cidades com maior percentual de público em espetáculos de dança: Manaus (32%), Belém (30%) e Macapá (30%). Vitória e Florianópolis, ambas com 31% de acesso, são representantes do Sudeste e Sul entre as cidades que lideram no acesso a essa atividade cultural.  Em contrapartida, o Centro-Oeste aparece, de forma geral, abaixo da média, sugerindo menor presença ou circulação desse tipo de linguagem artística nas capitais da região.

Em relação ao acesso a circo, a média entra todas as capitais é de 14% e as cidades nordestinas de Teresina (23%) e Natal (21%) ocupam as primeiras posições no ranking. Os dados apontam que o circo mantém forte presença em territórios onde a circulação de companhias itinerantes, festas populares e formatos mais acessíveis de espetáculo seguem desempenhando papel central na vida cultural local.

Teatro adulto é o mais frequentado

Para quem foi ao teatro, a pesquisa perguntou quais tipos de peça a pessoa viu – adulta, infantil, musical ou comédia. Em todas as regiões do país, o teatro adulto foi o mais citado pelo público, com 61% das menções, enquanto o musical surge com 50% e infantil e comédia têm 45%.

Para 36% das pessoas que foram a apresentações teatrais, a principal razão citada como motivação foi “passear ou se divertir”; 13% disseram que foi o “interesse pelo tema/obra”, 12% disseram que foi para “aprender/ter conhecimento” e 5% para “levar criança/filhos”.

Maioria do público de teatro é de mulheres e tem ensino superior

De acordo com os resultados da pesquisa, 55% das pessoas que foram a apresentações teatrais são mulheres. A participação de alguns grupos é maior do que na população como um todo: os moradores com ensino superior completo ou incompleto representam 36% da população de 16 anos ou mais nas capitais, mas, entre os que acessaram teatro, são 61%. Os entrevistados da classe B são 29% do total, mas 42% dos que disseram ter ido às apresentações atividades. Também nesse sentido, as pessoas autodeclaradas brancas são mais presentes no público de teatro (49%) do que na população das capitais (43%).

Diferenças socioeconômicas

Segundo os resultados do levantamento, 24% dos homens e 25% das mulheres que moram nas 27 capitais brasileiras foram a apresentações teatrais nos 12 meses anteriores à pesquisa. Quase metade (48%) das pessoas da classe A assistiram a esse tipo de atividade, enquanto na classe D/E o percentual é de apenas 8%. Idosos (18%) e pessoas com ensino fundamental (9%) também estão entre os grupos de menor acesso.


Metodologia 

Na edição atual da pesquisa Cultura nas Capitais foram ouvidas 19.500 pessoas, moradoras de todas as capitais brasileiras - as 26 estaduais, além de Brasília - com idade a partir de 16 anos, de todos os níveis socioeconômicos, entre os dias 19 de fevereiro e 22 de maio de 2024. As pessoas foram abordadas pessoalmente em pontos de fluxo populacional. Ao todo, os pesquisadores foram distribuídos por 1.930 pontos de fluxo (entre 40 e 300 por capital), em regiões com diferentes características sociais e econômicas. Os entrevistados respondiam até 61 perguntas, além das relacionadas a características sociais e econômicas (como escolaridade, cor da pele etc.). O instituto responsável pelo estudo é o Datafolha. 

Além da pergunta sobre renda, a pesquisa também adotou o Critério Brasil de Classificação Econômica, um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau de escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população em classes: A, B, C, D ou E (Fonte: ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa). 

Sobre a JLeiva Cultura & Esporte 

Consultoria especializada em concepção, planejamento, execução, análise e disseminação de dados e informações sobre o setor cultural no Brasil. Conduz estudos, mapeamentos e benchmarking para empresas privadas, instituições públicas e organizações sociais com atuação em cultura e esporte — como Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Vale, British Council, Vale, Nike, Museu do Amanhã e Instituto Goethe. Desde 2010, realiza pesquisas de hábitos culturais, consolidando-se como referência nessa área. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário